quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Câmpus inaugurado por Lula no Agreste está abandonado


Servidores e alunos reclamam de inúmeros problemas - Wilson Pedrosa/AE
Tânia Monteiro, enviada especial de O Estado de S.Paulo
GARANHUNS - No momento em que a presidente Dilma Rousseff ministrava uma aula inaugural no curso de Medicina da Universidade Estadual de Pernambuco, professores e alunos do campus de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco, a cinco quilômetros dali, anunciavam, na terça-feira, 30, que a instituição, lançada pelo governo Lula como pioneira na interiorização do ensino superior do País, "está em coma profundo, na UTI, precisando de uma junta médica para salvá-la".

Esgoto a céu aberto, falta de professores e servidores, de salas de aula, de laboratórios, de segurança, de ônibus, de água, alunos trabalhando como funcionários, hospital veterinário fantasma - tudo podia ser visto por quem visitasse a universidade.
A aula inaugural para alunos de Agronomia estava sendo dada, na terça-feira, no auditório - com cadeiras empilhadas -, por falta de sala. "A dificuldade é tão grande para entrar aqui e, quando chegamos, vemos que a dificuldade é ainda maior para sair aprendendo alguma coisa", resumiu o calouro Hugo Amadeu. "Ela (Dilma) vai atender a um curso de elite e aqui falta laboratório", emendou Lucas Albuquerque.
O professor Wallace Telino, da Associação de Docentes da Universidade, chama a atenção para a evasão de alunos e professores. O professor ressalva, no entanto, que, apesar desta "falta de tudo", ainda se consegue que alunos se destaquem em cursos e empregos, "mas apenas por mérito e esforços próprios". Para ele, o governo "está preocupado com números de universidades, mas se esquece da qualidade".
Apesar de o forte da instituição serem as ciências agrárias, os professores lembram que a universidade não dispõe de "um único hectare para trabalho experimental" e os alunos do curso de engenharia de alimentos estão prestes a concluir o curso sem uma aula prática.
Sem recursos. Embora a Universidade Federal Rural de Pernambuco tenha já dois câmpus problemáticos - os de Garanhuns e Serra Talhada - a presidente Dilma anunciou a criação de um terceiro, na mesma universidade, agora em Cabo de Santo Agostinho. "Não adianta ficar criando novas universidades e extensões universitárias se não forem dados, às que já existem, meios de funcionar com o mínimo necessário", disse o professor Antonio Ricardo Andrade.
Há um mês, como informou o Estado, outro câmpus da UFRPE, o de Serra Talhada, foi chamado de "museu de obras" pelos alunos. Levantamento do Ministério da Educação mostra que a UFRPE lidera a lista de serviços paralisados em universidades federais, com nove construções suspensas e duas obras interrompidas. A suspensão, segundo o MEC, deve-se a problemas com as construtoras, que abandonaram o canteiro, faliram ou demonstraram incapacidade na execução do trabalho.

O diretor da unidade de Garanhuns, Marcelo Martins, reconhece os problemas mas afirmou que um "enorme esforço" está sendo feito para resolvê-los. No caso das salas de aula, afirmou que o atraso de mais de dois anos se deveu à quebra de empresas contratadas para as obras. Os professores, alunos e funcionários encaminharam à Presidência um documento com 26 páginas de reivindicações e relatando os inúmeros problemas em Garanhuns. Os servidores, que estão participando da greve nacional da categoria, redigiram documento à parte com as suas queixas.



Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,campus-inaugurado-por-lula-no-agreste-esta-abandonado,766277,0.htm?p=2

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A algema como instrumento de punição


Gilmar Corrêa

Sabe o que dá ojeriza nessa história dos escândalos? É apequenar o desvio de milhões de reais em torno do debate do uso de algemas. Os políticos, definitivamente, participam de uma classe cujo único objetivo é defender o indefensável. Os políticos, sempre eles, estão na contramão de êxtase coletiva.

Oras, as algemas são um instrumento de satisfação popular. Assistir os corruptos do colarinho branco grampeados é um momento de vingança. É a desforra midiática instantânea. É ignorar que todos os instrumentos republicanos já foram pro espaço. A algema é símbolo de constrangimento dos acusados.
Na vida real, o instrumento metálico se fecha minuto a minuto nos pulsos de pessoas comuns que vivem na periferia. Ao lado do revólver e da pistola, é a arma mais poderosa de intimidação da polícia. É um instrumento de trabalho tão comum que todos os agentes policiais tem a obrigação de calçar em suas cinturas.
Nos tribunais, o uso das algemas ganhou corpo, há quase três anos, porque pessoas do alto escalão da burguesia e do poder republicano acabaram fotografados em operações de grande envergadura. Para o poder instituído, aí incluído a classe política, advogados de calibre, banqueiros, gestores públicos e boa parte do Judiciário, as operações são nada mais do que um esforço midiático de pouco proveito.
A mídia e a algema são, portanto, uma espécie de anti-Cristo para essa gente. É preciso acabar primeiro com a algema, para depois reduzir, acabar ou mesmo aniquilar, com o flash da Imprensa.
Sem querer exagerar, há uma conspiração alimentada por diferentes setores encastelados no poder. Tirar a algema de cena é também diminuir o aparato midiático. É um processo rápido capaz de suprimir a única satisfação popular em torno do noticiário político. É acabar, definitivamente, com o único interesse em torno das notícias que envolvem as administrações e os parlamentos públicos tupiniquins.
Assim, abre-se uma longa avenida de impunidade e enterra-se um momento lírico de julgamento da massa. Os crimes do colarinho branco devem ser punidos, sim, com a algema. É a única esperança que o povo tem que alguma punição possa acontecer.
E quem disse que o servidor público, o político e o corrupto não merecem receber algemas? E quem disse que esse pessoal envolvido em maracutaias não é perigoso?




Fonte: http://ucho.info/a-algema-como-instrumento-de-punicao

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A corrupção é endêmica ou epidêmica? Ninguém sabe


Carlos Newton
O Brasil é um país realmente muito estranho. Aqui as leis são do tipo “vacina”. Ou seja, podem “pegar” (ter efeito) ou não. Mas há também leis que são do tipo “parcial”, podendo ter efeito apenas pela metade. Esses dois fenômenos jurídicos – lei-vacina e lei-parcial – são facilmente identificáveis nos casos da corrupção à brasileira, que se tornou uma espécie de esporte nacional administrativo.
A lei prevê que existem dois tipos de corrupção – a ativa (de quem corrompe), e a passiva (de quem aceita ser corrompido). No caso, portanto, só “pegou” no Brasil a parte da lei que pune a corrupção passiva, embora tenha “pegado” como uma vacina fraca, que quase não apresenta resultados. Quanto à parte da lei que puniria a corrupção ativa, esta jamais foi aplicada. Definitivamente, não “pegou”.
Agora mesmo, em meio ao espantoso noticiário sobre corrupção divulgado diariamente nos órgãos de comunicação, atingindo os três níveis de governo (federal, estadual e municipal), não se vê maiores referências aos que cometem o crime de corrupção ativa – os empresários, especialmente empreiteiros e fornecedores. As notícias só se referem aos que cometem o crime de corrupção passiva, ou seja, as autoridades que se vendem por 30 dinheiros, digamos assim.
E “la nave va”, como dizia Fellini, porque nada vai mudar nem no Dnit (Transportes), nem na Conab (Agricultura) nem em qualquer outro órgão público onde predomine a corrupção, como ocorre no Estado do Rio de Janeiro em praticamente toda a administração pública comandada pela equipe de Cabral, com destaque para as Secretarias de Obras (feudo do vice-governador Luiz Fernando Pezão) e de Saúde (feudo do secretário Sergio Côrtes, amigo, comparsa e vizinho de Cabral no exclusivo condomínio de Portobello, em Manguaratiba).
Como termômetro da situação, é só ler os comentários publicados neste blog. Todos os nossos  colaboradores afirmam que a Justiça e as autoridades são coniventes e lenientes em relação a esse tipo de crime. E têm razão: não se vê ninguém cumprindo cadeia por corrupção ou perdendo os bens adquiridos ilegalmente, esta é a regra geral no Brasil.


http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=21570
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